O restaurante mais antigo do mundo
Fundado em Madrid, em 1725, como uma casa de comidas, Botín hoje é considerado o mais antigo restaurante de que se têm notícias.
Fundado em Madrid, em 1725, como uma casa de comidas, Botín hoje é considerado o mais antigo restaurante de que se têm notícias.
Numa ruela no centro antigo de Madri, uma taverna abre todos os dias para o almoço e para o jantar há 271 anos, sem nunca ter mudado de Nome ou de ramo de atividade. Um recorde que foi registrado pelo Guinness.
Provavelmente o único lugar e a em única época em que não existiram restaurantes foi o Jardim do Éden, durante o período de fartura do pomar, que acabou na confusão que todos conhecem. Mas bastou pintar o primeiro homem com habilidade para transformar grãos, frutos e seres da terra em pratos saborosos e pronto: surgiu a primeira mesa. Daí que falar em restaurante mais Antigo do mundo é quase uma heresia, já que o primeiro, de verdade, ficou escondido em algum nicho insondável da História.
Ao consta, porém, não há nenhum restaurante fenício, sumério ou mesopotâmico remanescente no século 20. Isso explica por que o critério para defenirqual é hoje, de fato, o restaurante de mais longa data seja o seu período de funcionamento nessa atividade específica , contando de 1996 para trás. Quem fez esse trabalho foi o Instituto Guinness, que, como se sabe, e uma entidade especializada em cavucar recordes, dos mais curiosos aos mais inúteis. Assim foi que , numa determinada tarde no início dos anos 90, um emissário do Guinness surgiu na Calle de Cuchilleros, 17, no coração do Casco Viejo (o bairro mais antigo) de Madri, e entregou ao proprietário um diploma que oficializava : a Antigua Casa Sobrino de Botín era, reconhecidamente, o restaurante mais antigo do mundo.
A Visita não mudou em nada a rotina da velha taverna, que sempre teve lotação completa, bons assados e bons vinhos. Mas o Botín - que é como tanto espanhóis, como gourmets do mundo todo, chamam o lugarque ganhou um novo diploma para pendurar em sua parede e passou a constar em mais alguns livros ao redor do mundo. O que, aliás, não é exatamente uma novidade na história desse estabelecimento, que funciona desde o ano de 1725 no mesmo edifício, com a mesma atividade - o que lhe garantiu o recorde - com a mesma capacidade Capacidade de atrair clientes. Na verdade, a grande glória do restaurante do Ponto de vista literário é ter sido citado na cena final do livro The Sun Also Rises, de Ernest Hemingway. Mas que entrar no Guinness também tem lá o seu valor, ah, isso tem!
Até porque isso faz lembrar como era o mundo quando o Botín abriu suas portas. O Brasil, por exemplo, era uma esquecida colônia, onde grupos de aventureiros organizavam expedições ao interior, no que mais tarde seria chamado de período das entradas e bandeiras. A América do Norte estava dividida entre ingleses, franceses e espanhóis e cidades como São Francisco ainda nem haviam sido fundadas . O centro do mundo era mesmo a Europa, perdida em intermináveis guerras entre infinitos réis. A Espanha, por exemplo, acabara de emergir de uma Guerra de doze anos, que terminou com a posse do Rei Felipe V. cujo antigo palácio (séculos mais tarde destruído por hum incêndio ) ficava a poucas centenas de metros da Calle de Cuchilleros. Nessa ruela sinuosa, pegada à Plaza Mayor, existiam várias oficinas de artesãos ferreiros, muitos dos quais fabricavam facas (cuchillos), donde derivou o Nome.
Esta é asala mais antiga, datada de 1590, quando ali funcionava uma hospedaria

O Botín nunca foi, nessa trajetória, uma casa de Nobres.
A aristocracia da Casa de Borbón passava ao largo da rua dos artesãos, fazendo muxoxos. A plebe, porém, se esbaldava na taverna, produzindo montanhas de pratos sujos para aborrecimento dos serventes de cozinha. Entre eles, um Certo Francisco de Goya e Lucientes, que exercia seu ofício de má vontade, dizendo aos colegas que um dia gostaria de se dedicar à pintura. Como se sabe, o Botín acabou perdendo um lavador de pratos sofrível. Em compensação, a humanidade ganhou de Goya algumas das mais esplendidas obras de arte realizadas já.
Quando você sair de lá, tera compreendido o porquê da vida longa do Botín. E só vai lamentar não poder voltar, por exemplo, no século 23. Porquê ele certamente estara lá .
O apetite de um certo senhor Hemingway
Na cena final do livro The Sun Also Rises, os personagens Brett e Jake almoçam no Botín. "É um dos melhores restaurantes do mundo. Nós comemos um leitão tostado e bebemos Rioja Alta" Diz Jake. "Meu Deus, que refeição você comeu ", espanta-se Brett. E a cena prossegue até o livro acabar, algumas linhas depois.
O escritor norte-americano Ernest Hemingway viveu intensamente e suicidou-se no início dos anos 60, imortalizou o Botín nesse parágrafo. O que presenta muito nas palavras de um notório bon vivant, curtidor dos prazeres mundanos. O Botín não foi o único restaurante de Madri em que Hemingway comeu, e inúmeras tabernas vizinhas juram que ele as visitou também . Aliás em toda a Calle de Cuchilleros, os restaurantes exibem fotos de personalidades que vão de presidentes a artistas, de Ursula Andress a Gabriel García Marques, de Pelé a Nelson Ned.
Mas a presença oficial de Hemingway, embora anunciada em cada casa, só está comprovada, através de literatura, pelo Botín. Para escapar da polêmica, o restaurante El Cuchi, quefica bem ao lado do Botín decidiu inovar. Em letras garrafais, mandou gravar na entrada: "Hemingway nunca comeu aqui ". E ponto final.
POR RONNY HEIN Matéria da Revista Viagem e Turismo de Março de 1996
Extraído da Coleção Viagem e Turismo em CD (Edição 2004)
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